FUNDADORES DE FRAIBURGO
É impossível falar de Fraiburgo sem contar um pouco da história dos Frey, mesmo porque o nome do município significa justamente “Vila dos Frey”. A detalhada história dessa família de origem alsaciana, encontra-se cuidadosamente contada no livro “Gloria de Pioneiros: Vale do Rio do Peixe – SC, de Gentila Porto Lopes. Será suficiente, pois, relembrar aqui alguns dos seus marcos, para que o leitor possa compreender melhor os acontecimentos mais recentes:
Chega ao Brasil, em 12 de outubro de 1919, o Professor Guilherme Frey, fugindo das tragédias do pós Primeira Grande Guerra (1914 – 1918) trazendo consigo seus quatro filhos, René nascido em 16/04/1904; Arnoldo, nascido em 10/03/1908, e as meninas menores Joana e Inês. Depois de passar pela Bahia, estabelecem-se no Rio Grande do Sul, primeiro em Triunfo e depois em Panambi.
Em 23 de dezembro de 1923, mudam-se para Castro/PR, onde René e Arnoldo, aos 19 e 15 anos, se empregam num açougue, onde aprendem o ramos do preparo de salames e fiambreria. Arnoldo, chegando aos 17 anos, muda-se para Jaguariaiva, onde trabalha como profissional nas Indústrias Matarazzo, a maior empresa brasileira da época.
Em 13/09/1925, René, aos 21 anos, casa-se com Maria Damaski, nascida a 20/08/1906. Em 27/06/1926 nasce o primeiro filho do casal Willy; em 04/09/1928 nasce Hugo; em 13/06/1932 nasce Gerda, e em 12/01/1937 nasce Renate, a última dos filhos do casal.
No dia 28/06/1930, o casal René Frey e seus filhos Willy e Hugo chegam de mudança a Perdizes, hoje Videira, para tentar se estabelecer por conta própria no ramo de carne. Pouco depois, chega o irmão Arnoldo, que se associa a René. Montam um pequeno matadouro e açougue, e passam a produzir diversos derivados de carne bovina e suína.
(Os Irmãos René e Arnoldo Frey)
Tendo crescido muito o negócio de derivados de carne e banha, que passaram a ser vendidos em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, os irmãos Frey se associam a Luiz Kellermann, formando a firma Frey & Kellermann, Arnoldo assume a gerência da nova indústria, com o nome de “Sociedade Catarinense de Banha”, atingindo em pouco a direção do Posto de Vendas dos produtos suínos da Firma.
Em 1935, os irmãos Frey associam-se ao proprietário de floresta Possanski e montam uma serraria de madeira em Anta Gorda. O empreendimento propicia grandes lucros, e quando termina a matéria-prima, associam-se a Carlos Puttkamer (“Carlos Alemão”), montando outra serraria para explorar seu belíssimo pinheiral em Rio das Pedras, atual distrito industrial de Videira.
Nessa mesma época, os irmãos Frey montam uma fábrica de caixas para uva, cuja cultura se expandia rapidamente na região e que daria origem ao novo nome da localidade, Videira, aproveitando as madeiras de terceira das serrarias.
Em 1937, esgotava-se rapidamente a matéria-prima para serrar, o que leva os irmãos Frey a procurar novas reservas mais distantes. Num local denominado de Campo da Dúvida (área de litígios entre as antigas Fazendas Butiá Verde e Liberata), onde hoje está Fraiburgo, havia uma vasta gleba coberta de pinheiros, de propriedade dos herdeiros de Belizário Ramos, Aristides e Aristiliano Ramos, primos do então Governador do Estado e futuro Presidente da República, Nereu Ramos. O negócio entre Ramos e Frey foi firmado na base de “serrar às meias”, como se costumava dizer: 50% para o proprietário da floresta e 50% para o serrador.
No feriado de 7 de setembro de 1937, René leva Maria para conhecer Campo da Dúvida, a 30 quilômetros de distância. Saem a cavalo às 4 horas da manhã, e através de caminhos difíceis, atravessando rios, chegam a Marechal Hindemburg, atualmente Dez de Novembro (vale a pena transcrever neste as próprias palavras de Maria Frey, conforme registradas em seu caderno de memórias):
(...) Seguimos viagem, passando pelo vizinho Sr. Ernesto Scholl, subindo agora numa ladeira, onde só mais tinha rastos do pés de cavalos, onde o primeiro pisava, outros também eram obrigados a pisar, pelo chão liso devido à unidade do mato, onde os pinheiros altos e grossos se sobressaiam, com as suas copas lembrando um guarda-chuva dobrado pelo vento. Tornamos a descer e chegamos a uma tapera, tendo, como vestígio de uma antiga moradia, chorões de respeitável grossura, árvores de maçãs, de marmelos, um forno despencando coberto de roseiras trepadeiras (hoje os fundos do Hospital). Seguimos mais pouco, chegamos numa clareira onde o mato afastou-se (...) Sentamos na sombra, recostando, para fazer a nossa refeição, isto foi pão com salame e vinho (...) Pelo cansaço sobreveio uma sonolência. Ainda ouvi René dizer aqui vai ser a serraria, lá o pátio das toras pela inclinação facilita levar os troncos na serra, lá vai ter uma estrada com casas. (...)
Na primavera de 1937, René, com uma equipe de 8 homens, começa a abertura de uma estrada de Mal. Hindemburg para Campo da Dúvida. Com outros homens, levanta um alojamento com troncos de xaxim e cobertura de folhas de butieiro, uma espécie de palmeira que existia em grande quantidade na região, e que dera origem ao nome da primitiva Fazenda Butiá Verde, da qual se originara Campo da Dúvida.
Durante o verão, novas turmas começam a erguer a serraria, no local onde hoje se situa a praça da Chaminé. Para acomodar o número crescente de trabalhadores, uma nova “pensão”, com 5 quartos , é construída, usando toras roliças de madeira. Com a chegada de mais homens, o alojamento vai crescendo até completar 17 quartos .
O inverno de 1938 chega violento, Registram-se 41 geadas, e a neve chega a acumular até à altura das janelas. Mesmo assim, começa a derrubada dos pinheiros, que são serrados e lascados a mão para a construção da serraria. Até ela ficar pronta, foram precisos aproximadamente 2 anos de duros trabalhos.
Para facilitar o transporte desde Perdizes até a serraria de tudo o que precisavam, a firma compra dois caminhões movidos a gasogênio, aparelho que ia preso ao veiculo, queimando lenha e produzindo gás combustível em substituição à gasolina, que praticamente desaparecera durante o período da Segunda Grande Guerra.
Na noite de 12 de agosto de 1941, a fabrica de caixas dos irmão Frey em Perdizes, que seria desmontada e mudada para o Campo da Dúvida, é totalmente destruída por um grande incêndio. A fábrica não estava no seguro e o prejuízo é total. Os fornecedores suspendem o crédito. Começa a faltar comida para os operários. Os irmãos Frey vendem sua parte na sociedade da banha e a casa de Arnoldo à firma Ponzoni, Brandalise & Cia, dando origem à atual Perdigão S.A. Finalmente, com um prazo de dois anos para pagarem suas dívidas, conseguido junto aos fornecedores das máquinas em São Paulo , e mais um empréstimo de 80$000 (oitenta mil réis, de então), as atividades finais para término da serraria são retomadas.
Após um esforço incrível de 5 dias repletos de perigos, sob chuva torrencial e atravessando rios, uma turma de 13 homens, comandada por Amâncio Chelli, munida de enxadas, pás, picaretas, cordas, quatro juntas de bois e dois caminhões, consegue trazer de Perdizes a grande caldeira (locomóvel) necessária ao funcionamento da nova serraria.
Ainda em 1943, os Frey constroem uma barragem no Arroio Passo Novo, com a finalidade de fornecer água para funcionamento da caldeira e locomóvel da serraria e para poder combater os freqüentes incêndios, dando origem ao lago artificial (Lago das Araucárias) da vila que ia nascendo e que passa a ser chamada de Butiá Verde.
Os irmãos Frey instalam um açougue e um armazém geral para atender aos primeiros moradores; criam a primeira escola, onde leciona por vários anos o professor Antonio Karasiak; providenciam um salão para reuniões e bailinhos; instalam em 1944 um gerador de eletricidade, que passa a fornecer energia para as casas dos empregados; contratam o técnico Alberto Wengrath para instalar uma olaria; em 1951 constroem a enorme chaminé para a caldeira com os tijolos ali mesmo produzidos.
Daí para a frente, foi uma “bola de neve”. Em 1958, a firma dos irmãos Frey, René Frey & Irmão Ltda, já amplamente diversificada, passa à categoria de sociedade anônima e abre escritório de representação no Rio de Janeiro.
Ao longo desses anos, as terras antes pertencentes aos Ramos e a outros antigos proprietários da região, foram sendo adquiridas pelos Frey, tornando-os praticamente senhores de Butiá Verde. Este fato iria ter grande influência sobre o futuro desenvolvimento da cidade e da região.
Fonte: Prefeitura Municipal de Fraiburgo.


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